Ontem, no Maracanã, tive uma estranha sensação: vi um jogo no qual o que menos importou foi a disputa entre Flamengo e Botafogo. Normalmente isso não acontece, ainda mais em um clássico como esse, recheado de rivalidade recente.
O clima nas arquibancadas estava apreensivo, diria eu. O noticiário policial das últimas semanas tratou de dar um novo tom ao que se pode esperar do esporte. De um lado, alvinegros sedentos de escárnio e de piadas de gosto duvidoso, tudo em nome da velha rivalidade. De outro, um torcedor rubro-negro descrente, muito menos de seu time do que de seu ídolo. Devo mencionar aqui que essa ordem poderia ser inversa, como foi outras vezes, sem prejuízo para a análise que faço agora.
Apenas um jogador merecia atenção de todos: Marcelo Lomba. O agora goleiro titular do Flamengo deveria se sair bem, sobretudo, na noite de ontem. Não porque precisasse provar seu valor para torcida, ou porque o time da Gávea estava necessitado da vitória. Marcelo Lomba deveria ter ido bem porque ele tinha a função sublime de fazer apagar de vez, das imagens e da memória, a figura de alguém que usou o futebol para projetar o que há de pior na condição humana.
Pouco importa se Lomba será tudo aquilo que dele espera o torcedor. Pouco importa se o goleiro vai figurar entre os grandes da história rubronegra. O que de fato marca é que ontem, pelo menos ontem, ninguém se lembrou da triste figura que um dia se vestiu de vermelho e de preto. Até mesmo o Botafogo pareceu querer contribuir, pois que as bolas alvinegras não tomaram o ruma do gol.
Marcelo Lomba também errou um dia. Tem seu nome registrado em algum distrito policial por ter agredido uma mulher, fato do qual garante ter se arrependido. Para o bem do esporte, espero que as palavras do goleiro sejam verdadeiras, e que as lições, mesmo que de forma bem àspera, tenham sido aprendidas.
Ah! Antes que eu me esqueça, o resultado do jogo foi: Fla 1 x 0 Bota. Mas, isso não tem a menor importância.
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