TEM QUE TER EDUCAÇÃO

Quando Caio Jr disse que falta cultura ao torcedor brasileiro, creio que tenha se expressado mal. Há uma confusão de conceitos por parte do treinador, o que é compreensível após o calor de uma derrota inesperada.

Primeiro quero dizer que sou um admirador do trabalho de Caio Jr. Eu mesmo já escrevi nesse blog, quando o técnico sequer tinha se desligado do Al Garafah, que torcia pela sua volta ao futebol brasileiro. Ele é uma pessoa diferenciada nesse meio: tem caráter, é inteligente e apresenta conceitos interessantes sobre o esporte.

Quando disse cultura, creio que Caio Jr quis dizer educação. Cultura não se refere somente as letras, as artes ou a alta cultura. Ela é um conceito bem mais amplo que isso. Cultura se refere a tudo que expresse o comportamento de um povo. O futebol e suas manifestações, na maioria das vezes grosseiras, fazem parte da cultura brasileira.

Não há outra forma do torcedor se expressar que não seja por paixão. O futebol por aqui é imediatista: se ganhou é gênio, se perdeu é burro. Veja o caso do Caio Jr: se o Loco Abreu tivesse feito os dois gols que perdeu no primeiro tempo e se o Jéfferson, quase infalível, não tivesse falhado no gol do Figueirense aos cinco minutos de jogo, o treinador teria ouvido aplausos ontem.

A falta de educação é notória. Uma coisa é ser apaixonado pelo clube, sofrer com derrotas ou vibrar com conquistas. Isso é perfeitamente normal, do contrário não seria esporte. O que deveria mudar é a postura da pessoa que torce. E isso é uma questão de educação.

Cito um exemplo. Ontem, na saída do Engenhão, acompanhei com curiosidade o comportamento de uma jovem torcedora alvinegra chateada após o tropeço. A partida já havia se encerrado há quase duas horas, tempo suficiente para a jovem estar em casa. Ela preferiu esperar, impacientemente, a saída de Caio Jr.

Quando o treinador chegou ao estacionamento e entrou em seu carro, a menina vociferou, com o máximo de potência da sua voz, xingamentos e palavrões os mais absurdos. Ela estava sozinha, mas representava ali boa parte da torcida alvinegra.

O que levou a jovem torcedora esperar tanto tempo para gritar alguns palavrões? Qual foi sua motivação para tal? A paixão pelo clube? Ou terá sido uma manifestação pura e simples da irracionalidade humana? De qualquer maneira, é um tipo de comportamento que traduz uma falta de educação extrema e crônica, não só daquela menina, mas da maioria do povo.

Não se trata de problema de classe, já que esse tipo de manifestação pode ocorrer através de qualquer indivíduo, seja ele pobre, rico ou de classe média. É o jeito de ser do latino americano que quer resolver tudo no grito. Concordo com Caio Jr mais uma vez, quando ele diz que a imprensa tem papel vital na modificação desse quadro. Devemos nos posicionar com mais parcimônia, cautela e equilíbrio. Em nada contribuem os programas que exaltam rivalidades, fazem sensacionalismo e transformam o esporte em algo que ele não é.

Talvez Caio Jr esteja se arrependendo de ter voltado ao Brasil. Mas, ele deve saber que as mudanças são lentas e que talvez nem as veja acontecer. O que o treinador tem que aprender rápido é que algumas coisas são como são e pouco se pode fazer para modificá-las. Um dia o técnico vai acertar e no outro vai errar; é assim... E se quiser se manter por aqui, Caio Jr precisa aprender a conviver com hostilidades.

É como diz a campanha de marketing do Botafogo: "Tem que ter paixão". Eu acrescentaria: "Tem que ter educação".