23 de abr. de 2014

O CANTO DA SEREIA

Pablo Zeballos está surpreso. O paraguaio não consegue compreender porquê os salários atrasam no Brasil. No Botafogo já são dois meses e o jogador, que foi contratado recentemente, ainda não viu a cor da grana por aqui. Diz Zeballos que as referências sobre o Brasil no exterior são as melhores. Lá fora há um certo ânimo com o mercado verde e amarelo. O atacante se surpreende com a crise encontrada em General Severiano logo agora, ano de Copa do Mundo em nossa terra!
Zeballos não é nenhum inocente. Do alto de seus 28 anos, já frequentou mercados bem piores do que o nosso. No Paraguai jogou pelo Sol de América, Cerro Porteño e Olímpia. No Equador teve passagens por Emelec e Oriente Petrolero. Passou ainda pelo futebol mexicano, onde vestiu a camisa do Cruz Azul. Na Europa apenas atuou pelo modesto Krylya Sovetov, da Rússia. Nenhum destes times têm modelos vitoriosos de administração e, seguramente, já atrasaram seus salários alguma vez. Zeballos conhece bem essa realidade,  portanto.
Faltou ao paraguaio estudar um pouco mais da realidade econômica do Brasil. O futebol, não me canso de dizer, é apenas uma extensão do que é um país. Por muitos anos se experimentou por aqui uma sensação de crescimento econômico e de solidez. Enquanto Europa e EUA se debatiam em crises agudas, o Brasil nadava em águas aparentemente calmas. No futebol, as contratações se sucediam desenfreadamente. Jogadores retornavam para a pátria amada em busca de feijão e din-din. Os salários por aqui já se igualavam aos salários do primeiro mundo. Associe-se a isso a escolha do Brasil como sede do próximo mundial e pronto! Não faltava mais nada para virarmos o eldorado do futebol mundial!
E foi nesse embalo que as dívidas se acumularam assustadoramente. É justamente neste ponto que se encontram os clubes neste instante: não sabem como pagar suas dívidas e imploram o perdão. Todo dinheiro que entra vai direto para a penhora, essa senhora de boca larga que insiste em devorar todas as receitas.
Faltou a Zeballos um exame mais prudente. Era preciso mais cautela antes de se encantar pelo canto da sereia. Ela é bonita e sedutora, mas esconde pesadelos tão sombrios quanto as profundezas do mar. Copa do Mundo meu caro Zeballos, nunca foi sinônimo de prosperidade; a não ser para a FIFA e alguns poucos eleitos. Os clubes permanecerão endividados e suas receitas comprometidas.
O Botafogo está à deriva e seus dirigentes não têm a menor ideia de como guiá-lo. O próprio presidente já assumiu sua incapacidade para resolver tal impasse. O próprio Zeballos, vejam que ironia, custou aos cofres alvinegros cerca de R$ 700 mil. 

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