10 de jul. de 2014

ENTRE DOIS MUNDOS

Foto: Mike Hewitt/Getty Images

Ronaldo foi exemplo de dedicação e alvo da admiração de um povo. Como atleta, conseguiu se impôr aos desvios do destino e tomou pelas rédeas sua própria história. Entretanto, a partir do momento que deixou os gramados um outro homem surgiu. O mito deu lugar às imperfeições do humano. As atitudes e frases mal colocadas de Ronaldo o afastaram de seu público. Hoje, já não existe mais o Fenômeno.
Nem mesmo suas críticas e comentários são tratados com simpatia. Desde que defendeu o gasto com estádios e se posicionou contrário ao desejo da nação, Ronaldo criou uma chaga irrecuperável. Ser membro do Comitê Organizador da Copa (COL) estampou no craque o rótulo de defensor dos interesses da FIFA, mesmo que para isso contrarie interesses nacionais. Até acho exagerados alguns ataques ao ex-jogador, embora não nutra simpatia por suas declarações e, tampouco, comentários.
Para mim, mais grave do que emitir opiniões esdrúxulas é ser proprietário de uma empresa que cuida da imagem de atletas (dentre eles Neymar) e, concomitantemente, fazer parte da organização da Copa do Mundo. Há uma convergência de interesses que não está explícita, mas pode ser deduzida.
Essa ligação perigosa gera certa desconfiança do público. Como ter certeza que, ao emitir alguma opinião, até mesmo durante os jogos, Ronaldo não está colocando seus interesses pessoais em primeiro lugar? O ex-atacante fez duras críticas à seleção derrotada, mudando drasticamente o tom que passou do ufanismo irascível a indignação desvairada. O ser híbrido em que se transformou Ronaldo nos dificulta fazer uma avaliação sobre as declarações. Qual dos dois está falando? O empresário ou craque? O homem que foi ou o homem que é?

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