29 de abr. de 2015

A LIÇÃO DO NORDESTE

A discussão sobre o fim dos estaduais é muito vasta para que seja definida em poucas linhas. É preciso que se avalie muitos aspectos antes de se chegar a uma conclusão. Fatores como: falência de clubes menores, enfraquecimento de federações e diminuição de mercado de trabalho devem estar na pauta. Também devem fazer parte do debate: desvalorização das competições, estádios vazios por falta de interesse e desvalorização do mercado da bola. Há prós e contras que devem ser medidos, como sempre se faz em um bom debate.
Entretanto, há uma realidade incontestável que ganhou forma e alma no nordeste brasileiro. Um fenômeno que se caracteriza pela mobilização popular e pelos bons índices de faturamento dos clubes. Um campeonato que surgiu como necessidade e  se transformou em exemplo: a Copa do Nordeste. Sua primeira edição data de 1976, mas não houve mobilização necessária dos clubes e a competição não passou desse ano. Em 1994, uma nova tentativa. Mais uma vez, os clubes não se organizaram com coesão e perderam a queda de braço para as federações. De 1997 até 2003, a Copa do Nordeste, agora organizada pela CBF, não sofreu interrupções. Entretanto, em 2004, sufocados pela falta de apoio da entidade e pelos jogos deficitários, os clubes acabaram por ceder aos apelos das federações e encerraram a competição.
Desde 2012, houve uma virada nesse cenário instável de interrupções. A Copa do Nordeste ganhou força e vulto. Os clubes se deram conta que seus campeonatos regionais, extremamente deficitários, não seriam suficientes para manter suas contas. A competição virou uma espécie de galinha dos ovos de ouro. Com um forte apelo local (a Copa é apelidada de Lampions League, em referência ao cangaceiro Lampião) e uma organização simples, sem regulamentos esdrúxulos, a Copa do Nordeste virou sucesso garantido. A prova disso é a decisão de 2015 entre Ceará e Bahia, no Castelão. Para esta partida, mais de 63 mil ingressos vendidos. Em toda a competição, quase 500 mil torcedores presentes aos estádios. 
A grande diferença da Copa do Nordeste para outras competições país afora e até mesmo para o Brasileirão, é que ela é gerida pelos clubes participantes. A CBF e suas politicagens ficam fora da organização. As federações, pequenos antros de corrupção, se limitam a sugar os campeonatos estaduais e não interferem no Nordestão. Eis aí um belo indício do porquê do fracasso do Carioca ou do Paulista.
O centro da questão está nos conflitos entre entidades e clubes que ficaram mais evidenciados na atual temporada. No Rio de Janeiro e em Minas Gerais não faltaram reclamações e ameaças de desfiliação. Enquanto no nordeste os clubes tiveram anuência da CBF para organizar uma competição forte, mas que não é uma liga, no sul e sudeste isso se torna mais difícil de acontecer.
Os clubes de maior poderio financeiro se encontram mais abaixo do país, o que aumenta, consequentemente o interesse financeiro e comercial nesta região. Deixar os clubes organizarem competições paralelas aos estaduais significa o enfraquecimento econômico das federações locais. Essas, vivem de seus estaduais de onde sugam belas quantias anuais. Por outro lado, a CBF não pode dar autorização para criação de competições paralelas porque depende do apoio dos presidentes de federações. Desagradá-los pode ser o fim do apoio político necessário para que se perpetuem no poder. 
E nessa rede intrincada o futebol brasileiro vai caminhando. Enquanto o nordeste ensina o caminho da mudança, o resto do país discute mudanças mirabolantes de paradigmas em congressos e conferências. É através da simplicidade que se encontra a resposta. Nesse caso, acho que preferem se fazer de cegos ou tolos, atitude que vem muito bem a calhar.

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